Redação

PROPOSTA DE REDAÇÃO
Com base na leitura dos textos abaixo, escreva um texto dissertativo discutindo a importância da leitura e da escrita no desenvolvimento de um povo.

AMOR É LETRAMENTO, SEXO É ALFABETIZAÇÃO
Tendo fracassado o meu último relacionamento amoroso, resolvi concentrar todo o meu interesse e atenção nos estudos.
Ler, nessas ocasiões, é melhor que pensar...
Assim, eu li, numa só noite, cinco artigos que tratavam de questões referentes à Alfabetização e ao Letramento, na esperança de que, com a cabeça entupida pelos problemas relativos ao ensino da leitura e da escrita, pudesse dormir. Em vez disso, porém, eu comecei a ter ideias.
É interessante perceber que, ao contrário do que acontece em outros países como Estados Unidos e Espanha, onde existe apenas uma palavra para designar o processo de aquisição da leitura e da escrita, no Brasil é cada vez mais comum dividir esse processo e dar a ele dois nomes diferentes: Alfabetização e Letramento. A alfabetização é aqui entendida como o desenvolvimento das habilidades de codificação e decodificação da língua escrita, enquanto letramento designa a capacidade de utilização da leitura e da escrita para fins pragmáticos, em contextos cotidianos, domésticos ou de trabalho.
A palavra “letramento” é versão para o português da palavra da língua inglesa “literacy” que pode ser traduzida como a condição ou estado que assume aquele que aprende a ler e escrever. Segundo Soares (2000), está implícita no conceito de “literacy” a idéia de que a escrita traz consequências sociais, culturais, políticas, econômicas, cognitivas, linguísticas, quer para o grupo social em que seja introduzida, quer para o indivíduo que aprenda a usá-la.
O que eu percebo, porém, na prática dos professores com quem mantenho contato (na escola em que trabalho e nos cursos de aperfeiçoamento oferecidos pela Secretaria de Educação), é que existe uma confusão muito grande em relação a esses dois processos. Alguns professores (principalmente os mais conservadores) acreditam, inadequadamente, que a alfabetização é uma condição indispensável para o letramento. Outros pensam que o letramento é uma espécie de preparação para a alfabetização...
O letramento inicia-se muito antes da alfabetização, ou seja, quando uma pessoa começa a interagir socialmente com as práticas de letramento no seu mundo social. Como afirma Freire (1989: 11-12),
(...) A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto.
Nesse sentido, se a leitura de mundo precede a leitura da palavra, um indivíduo pode ser letrado, mas não alfabetizado. Por exemplo, um adulto mesmo não sabendo ler e escrever pode pedir a alguém que escreva por ele, dita uma carta, pede a alguém que leia para ele a carta que recebeu, ou uma notícia de jornal, ou uma placa na rua, ou a indicação do roteiro de um ônibus etc. Essa pessoa não sabe escrever e  não sabe ler, mas já conhece as funções da escrita e da leitura, lançando mão do alfabetizado. Segundo Soares (2000), essa pessoa é analfabeta, mas é, de certa forma, letrada, ou tem um certo nível de letramento. O mesmo acontece com crianças ainda não alfabetizadas. Para a autora (ibidem),
Uma criança que vive num contexto de letramento, que convive com livros, que ouve histórias lidas por adultos, que vê adultos lendo e escrevendo, cultiva e exerce práticas de leitura e de escrita: toma um livro e finge que está lendo (...), toma papel e lápis e “escreve” uma carta, uma história. Ainda não aprendeu a ler e escrever, mas é, de certa forma, letrada, tem já um certo nível de letramento.
Portanto, esses processos não são sequenciais, ou seja, um não vem depois do outro. Ao contrário disso, alfabetização e letramento são interdependentes e devem ocorrer simultaneamente, porque um favorece o outro. Assim sendo, eu me pergunto no meio da noite: Não seria mais fácil se existisse uma palavra apenas para designá-los?
Decidi que o melhor era abandonar essa questão, pelo menos até o dia seguinte e tentar dormir, entretanto, o sono não veio e eu comecei a me questionar sobre a necessidade da razão humana em estabelecer certas distinções. O amor e o sexo, por exemplo, no contexto de uma relação romântica, se são interdependentes e o ideal é que ocorram simultaneamente, por que são tantas vezes colocados em extremos opostos? É claro que eu sei que existe sexo sem amor, assim como existe amor sem sexo, mas é um tanto quanto repreensível, a meu ver, um casamento entre um homem e uma mulher sem esses dois ingredientes.
O que tenho observado é que existe uma crença na superioridade do amor em relação ao sexo. Assim, se existe amor, acredita-se que o sexo seja bom por consequência ou, no caso contrário, quando não existe amor, uma relação baseada apenas em sexo é vista como algo inferior. Quando o casal se ama “de verdade” não se diz que eles fazem sexo. Eles “fazem amor”. Talvez isso seja porque o amor parece ter vida mais longa que o sexo: “Sexo vem dos outros e vai embora, amor vem de nós e demora” (Rita Lee e Arnaldo Jabour). Assim, o amor (eu estou falando do amor romântico, que acontece entre casais) parece apresentar uma certa grandiosidade enquanto o sexo é tido como necessário, porém pequeno.
Fato semelhante parece ocorrer com a questão da aprendizagem da língua escrita. Recentemente, muitos pesquisadores chamaram a atenção dos alfabetizadores para a necessidade de fazer com que a criança se familiarize com os usos que se faz da escrita na sociedade em que está inserida. Essa descoberta alterou a prática de muitos professores nas escolas. Nada mais justo, uma vez que a compreensão do uso da escrita nas relações sociais é fundamental para o processo. Acontece, porém, que muitos educadores (esses que se dizem inovadores), penderam todos os seus esforços para a questão do letramento e esqueceram-se dos aspectos fonológicos (relação entre letras e sons) envolvidos na aprendizagem da língua escrita. O resultado disso é desastroso, principalmente para as crianças das classes menos favorecidas. Letramento é uma espécie de “nova moda”. E nessa onda de letrar, esquece-se de alfabetizar.
É claro que a capacidade de codificar e decodificar palavras não garante a inserção do sujeito no mundo das práticas de escrita, prova disso é que, no Brasil, o índice de analfabetismo funcional chega A 75% da população de adultos, segundo dados do INAF (Indicador de Analfabetismo Funcional) do MEC. O termo analfabetismo funcional tem sido utilizado para designar a incapacidade de pessoas utilizarem a leitura e a escrita, além de realizar cálculos básicos, em atividades da vida diária, ainda que tais pessoas detenham a capacidade de decodificação da língua escrita. Entretanto, se o sujeito não souber codificar e decodificar corretamente o seu uso da escrita ficará muito restrito, pois ele sempre necessitará de alguém que faça isso por ele.
Problema encerrado, acho que agora eu já posso dormir e sonhar, talvez, com um mundo perfeito onde as coisas sejam menos complicadas. Mas, e a questão amor e sexo? Não estaria acontecendo com os relacionamentos o mesmo problema que ocorre com relação ao ensino da língua escrita? Será que a preponderância do amor não tem sufocado as especificidades do sexo? São muitas as perguntas, a noite já está no fim e eu perco as esperanças de pegar no sono...
Volto à música “amor e sexo”... Rita Lee compôs essa música inspirada por uma crônica de Arnaldo Jabour. Eu considero a crônica bem mais interessante principalmente porque, em alguns momentos, ela rompe com esse preconceito em torno da superioridade do amor: “Amor é egoísta, sexo é altruísta”.
Fazendo uma analogia entre amor e sexo, alfabetização e letramento, talvez possamos concluir que o sexo não é uma consequência do amor, assim como a alfabetização não acontece espontaneamente dentro do processo de letramento. Os dois tem que ser construídos. Eu acho até, que seria saudável que os casais se reservassem momentos exclusivamente sexuais, nos quais, libertos da pretensa grandeza do amor, pudessem se entregar a uma satisfação puramente carnal.
Talvez, também não seja nada disso, é preciso admitir. Talvez o meu interesse em elevar o valor do “sexo pelo sexo” não seja mais do que a expressão do meu desapontamento recente em relação ao amor. Aliás, o meu objetivo ao debruçar sobre os textos da faculdade era justamente esquecer que o amor existe. Mas foi grande o meu fracasso (Seria essa uma prova da superioridade do amor?) Pode ser... Tanto faz... Muito cansada, rendo-me a constatação de que o problema é muito maior do que eu, e durmo em paz...
Ednéia Angélica Gomes

A temática da alfabetização encontra-se na pauta de discussão de importantes fóruns, órgãos e instâncias no Brasil, mas esse interesse não representa uma novidade, bem o sabemos. Ao mirarmos em direção à história da educação nacional vamos encontrar pistas sobre como o tema vem sendo tratado há muito neste país. Saviani (2002) nos lembra que em 15 de outubro de 1827 foi promulgada a primeira Lei que determinava a criação de escolas de primeiras letras. É em alusão a importância dessa data que temos comemorado o dia do professor. A referida lei estabelecia que nas escolas criadas, os professores ensinariam a ler, escrever, as quatro operações de aritmética, prática de quebrados, decimais e proporções, as noções mais gerais de geometria prática, a gramática da língua nacional, os princípios de moral cristã e de doutrina da religião católica e apostólica romana proporcionadas à compreensão dos meninos. Este regulamento, no entanto, não garantiu na prática a instalação de escolas elementares em todas as cidades, vilas e lugares populosos como se propunha. Em 1834 um Ato Adicional à Constituição do Império desobrigou o governo central de cuidar das escolas primárias e secundárias, transferindo essa incumbência aos governos provinciais. O resultado, afirma ainda Saviani, foi a falta de investimentos na abertura de escolas e o adiamento da alfabetização da população Brasileira. Vemos assim que a tematização da alfabetização e a ausência de ações sérias e concretas em favor da aprendizagem da leitura e da escrita da população não é algo novo neste país.
Mais recentemente temos visto, lido e discutido a respeito dos baixos índices de aprendizagem da leitura e da escrita no Brasil indicados pelo SAEB (Sistema de Avaliação do Ensino Básico). Os dados de 2003 e divulgados em 2004 apontam que 55,4% dos alunos que participaram deste processo de avaliação teriam apresentado sérios problemas de leitura. Destes, 18,7% estariam em nível 'muito crítico' pois "não desenvolveram habilidades de leitura mínimas condizentes com quatro anos de escolarização; não foram alfabetizados adequadamente; não conseguem responder os itens da prova" (p.34).
 Jacqueline de Fátima dos Santos Morais[